Experiência e pobreza, leitura (1)

A parábola do trabalho. Este ano aqui na França começam a proliferar as comemorações da Primeira Guerra Mundial, que aconteceu entre 1914 e 1918.

Entre outros:

http://www.paris-bibliotheques.org/expositions/paris-1418-guerre-au-quotidien/

Uma das “experiências mais terríveis da história” da Europa,  vivida por uma geração que em parte morreu, n’outra parte silenciou, profundamente pobre em transmitir experiências, e, em outra parte ainda, como na parábola, diante de um vinhedo destruído, cujas estradas de entorno ainda eram trilhadas por carruagens puxadas à cavalo, aguardou a próxima estação, o outono, e viu florescer um dos mais preciosos tesouros brotados da terra.

Para Walter Benjamin, aquela geração d’avant la guerre (de antes da guerra), “viu-se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente de tudo, exceto nas nuvens*, e em cujo centro, num campo de forças de correntes e explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano”, p. 115.

A experiência de um velho pai que ao morrer revela a seus filhos “a existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos”, só teria sido compreendida pelas novas gerações depois da destruição e ainda hoje, podemos bem dizer, ainda lutamos para compreendê-la, que: “a felicidade não está no ouro mas no trabalho”, p. 114.

Mas, depois da destruição, surgiram outras formas de miséria, que persistem. E que, em algumas coisas e momentos, se multiplicam: parece que andamos nos repetindo.

Benjamin fala que parte daquela renovação é galvanizada, ou seja, não traduz uma experiência tal como aquela das parábolas (e ele lamenta): é um processo de tratamento da superfície*, com metais bem aplicados através de altas técnicas industriais, como proteção. E nos perguntamos, proteção de que?

Benjamin faz algumas referências e citações que podemos depois retomá-las* (duplos do  moderno). E nos remete no tempo, entre tempos, melhor, talvez mostrando que o tempo começa a parecer outro, a aparecer e a perecer – outra forma de escrever história*. Como outro tempo, esse pós-guerra, faz emergir, inclusive, uma “barbárie nova” que demonstra a subtração da experiência (hipócrita e sorrateiramente herdada), que permeia nossos espaços de convivência, nossas vidas.

Nisso ele pergunta em 1933: “qual o valor de todo o nosso patrimônio cultural, se a experiência não mais o vincula a nós?”

(a leitura vai continuar…)

A propósito, um filme generoso (não tenho outras palavras agora):